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Bocada - Forte ::: Entrevistas


Bocada - Forte ::: Entrevistas
Sonic - Rap com a palavra de Deus




Diretamente de Florianópolis, Santa Catarina, Sonic, MC do grupo Efikaz, fala sobre o comportamento dos jovens e da busca pela paz através da música. O rapper lançou recentemente a mixtape "Pra te Entreter" e prepara novas músicas do Efikaz. Sonic é um MC cristão que prova o quanto a articulação entre o Hip-Hop e a religiosidade pode causar mobilidade e criar uma visão crítica do mundo ao nosso redor. Abaixo, entrevista exclusiva com o rapper.

Central Hip-Hop (CHH): Como você encara o papel do Rap e da religião nos dias de hoje?
Sonic: O Rap sempre lutou por justiça, sempre tentou passar a verdade, a revolta e a indignação com os contrastes e preconceitos do mundo. Não é diferente hoje em dia. Grande parte de MCs, B.Boys, DJs e grafiteiros luta, transmite seus pensamentos e reparte seus talentos através de projetos sociais. No capítulo 4 do livro do profeta Oséas, na Bíblia Sagrada, ele cita a falta de conhecimento da verdade do povo da Terra causando a contenda com Deus. Muitos se acham os donos da verdade e que não precisam mais aprender nada, e isso vem causando guerras. Infelizmente, a maioria das guerras acontece pela religiosidade, egocentrismo. Somos imagem e semelhança do Criador, mas tem nego abraçando tudo, cheio de falácia como se fosse o Criador. Só existe um caminho, uma verdade. João 8:32 diz: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará".

Eu vejo como uma aliança perfeita a junção do Rap com a palavra de Deus, transmitindo as boas novas do reino, que são: justiça, paz e alegria do Espírito Santo para os justificados pelo sangue de Cristo. A guerra na Terra é injusta, e há vários inimigos que não enxergamos, precisamos de reforço. Somos referência com uma arma poderosa que Deus nos concedeu (microfones e muros, principalmente).

CHH: Atualmente, existe uma ligação mais forte entre os jovens e a religião?
Sonic: Na verdade, vejo os jovens ligados muito às coisas do mundo e não ligados ao mundo espiritual. Todos querem tudo rápido e fácil. A palavra diz que o reino é concedido com esforço. Precisamos correr, nada vem de graça. A juventude está lendo pouco, passa muito tempo com os olhos em entretenimento, Orkut, etc.

Muitos pensam que os crentes são presos à “religião” por não poderem fazer isso ou aquilo, e acabam se afastando de buscar a verdadeira intimidade e amor com Deus, e continuam com seus pecados que os dominam. Na verdade podemos tudo, mas o que nos supre é a paz que excede o entendimento. A embriaguez que o Espírito concede é muito mais forte que qualquer droga ou bebida. Eu, que canto Rap pra Jesus, considero o Rap fundamental. Amo o Rap, mas ele não me domina nem deixa que eu o idolatre mais. Em primeiro lugar estão Jesus e minha família. Nascemos pra dominar, governar, e muitos são dominados por ervas, remédios, bebidas alcoólicas. Lá em Jeremias diz que, se nos cansamos com os que andam a pé, como competiremos com os que andam a cavalo? Quem vive injustiça no mundo precisa correr duas vezes mais pra ter as coisas. Se baixar a cabeça e cair na depressão, o cinzento vem e rouba, mata e destrói.

CHH: Vemos cenas de violência nas escolas, nas festas etc. O individualismo e a incivilidade superam os valores que guiam o comportamento dos jovens?
Sonic: O amor esfriando nos lares, a falta de perdão, muito ódio e mágoa retida nos corações, as pessoas não se falam, não se cumprimentam, há apertos de mão frios sem olhar nos olhos, umas perguntas que saem automaticamente em conversas sem preocupação ou interesse... São alguns fatores, a meu ver, do que faz acontecer. Isso vem de pai pra filho, ou de quem está próximo marcado culturalmente. Amar o próximo como a si mesmo - difícil, né, irmão?

O mundo é uma competição, farinha é pouca, meu pirão primeiro. Os filhos se espelham no que está mais perto, na base, família. Muitas famílias têm condições de pagar bons colégios e ficam despreocupados, mas hoje em dia é complicado cuidar 24h dos filhos. Não adiantam o celular, e-mail, Twitter, GPS...

Já os que não têm condições colocam todos os seus pensamentos direcionados pra os problemas, e nossa carne parece que já diz no automático: "Não vai dar, nem tenta, tio". Não adianta construir um castelo na areia, lá na frente às pessoas sofrem as consequências da falta de educação, de instrução.

CHH: Qual foi seu primeiro envolvimento com a música e como entrou no Hip-Hop? Você já era convertido nessa época?
Sonic: Canto Rap desde 1996, mas minha primeira visão de que seríamos usados com isso foi em 1992. Morando ainda com meus pais, eu e meu irmão achamos, no meio de uma pilha de discos que meu pai ganhou de um DJ que morava em nosso prédio, um LP antigo com sucessos da gravadora Jive. Aquele som diferente do que estávamos acostumados a escutar chapou os ouvidos e brilhou os olhos meu e do Rato. Meu pai era racista e odiava Rap, e, pra sorte dele, amamos aquilo (risos).

A entrada no movimento do Hip-Hop foi entre 1996, nos eventos que tocavam no colégio, e em 1997, quando tocamos num evento organizado pelos irmãos pioneiros do Rap aqui, o Código Negro. Foi no antigo Corinthians do Pantanal, uma casa modesta que hoje não funciona mais.

Minha conversão começou em 2001, depois de colocar o pé pela primeira vez na igreja pra rimar na abertura de um show do Apocalipse 16. Mais pra frente, meu irmão, que estava mais firme na igreja, me chamou pra tocarmos juntos, até que, em 2005, junto com ele, formei o grupo Reverso, que foi o que me trouxe para a igreja, de onde não saí mais.

CHH: Fale sobre seus trabalhos.
Sonic: Tem algo que nos deu muito trampo, mas foi edificante e responsável pela nossa transformação, que foi o LP do Atrito Constante, chamado "100 Flagrante", que lançamos em 2000 de forma independente, com participação do CXA e do Douglas do Realidade Cruel.

O CD do Reverso, também de forma independente, em 2005, rendeu pouca grana, mas trouxe muitas pessoas pra perto e fortaleceu a família. Vimos pessoas que eram dependentes da pedra e do pó serem restauradas por Deus através de nossos Raps.

Essa mixtape que lancei agora, chamada "Pra te Entreter", é algo que fiz depois que vi um rapaz dentro do banco ouvindo um som que gravei com o Papo Reto. Reuni vários sons que estavam “encalhados” e disponibilizei pra quem não conhece ainda o trabalho.

Um show memorável pra mim foi quando tocamos na abertura do show do rapper T-Bone, no ano passado, aqui em Floripa, com o Efikaz. Foi sobrenatural, sonho, choro e oração pra trazê-lo, e concretizar isso foi muito a mão de Deus.

CHH: Como é a cena do Rap em sua região?
Sonic: Eu estou sempre na sintonia com os irmãos do movimento e, quando é possível, tocamos juntos na igreja, nas festas, onde nos chamam. Inclusive, vai ter um encontro nacional de Hip-Hop no próximo sábado e me convidaram para uma apresentação.

Floripa é uma cidade turística, mas com problemas. Então, temos casas noturnas e DJs se apresentando todo final de semana, mas existem os irmãos que tocam nas comunidades carentes ao redor.

Hoje, meu Rap não quer somente trazer para perto os maloqueiros. Quero que pessoas de 8 a 80 anos ouçam e se identifiquem. Quero trazer todos pra perto, os boys ou a favela. Uma vez, um casal de aproximadamente 60 anos veio conversar comigo e elogiar meus Raps (risos). Isso é motivador. As pessoas gostam de ouvir barulho bom, não é só um beat e berrar no mic, né? (risos)

CHH: Quais seus projetos futuros?
Sonic: Além de me preparar para ser pai, já que minha esposa Alana está grávida, enquanto a mixtape "Pra te Entreter" está recentemente na rua, estou gravando as músicas do álbum do grupo Efikaz, junto com o Kacique e o Abel. Tenho também dois projetos paralelos: um com a banda Somos1, no álbum "Pelo Reino", e outro é uma surpresa que estou preparando junto com meu mano Marrom. Depois disso, vamos ver o que Deus nos reserva.

Tenho buscado honrar o meu diaconato e a igreja em que congrego, a Livre em Jesus, no centro de Floripa, trabalhando pelo reino, ministrando nos cultos ao meio-dia e nos evangelismos para os quais nos chamam. Por enquanto, Deus me permite ser usado como rimador, mas vamos ver mais além...

Abraços a todos, fiquem na paz do Paizão. God bless ya!

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